sexta-feira, 25 de julho de 2008

Apresentação do blog

Participando direta ou indiretamente de movimentos sociais e estudantis há alguns anos, sempre me impressionou a baixa formação teórica de seus respectivos militantes. Mesmo na universidade onde deveria ser central a questão do conhecimento e a fundamentação teórica das posições tomadas, quase sempre o que se nota é arbitrariedade e posições fundadas em aspectos meramente emocionais, doutrinários ou impressões. Saliento que tal característica está presente na quase totalidade dos estudantes universitários, que apesar de não compreenderem quase nada, sentem-se no direito de emitir “opiniões” sobre tudo e rotular todos os movimentos.

Como militante da esquerda socialista desde a adolescência tal questão sempre ficou evidente no que diz respeito ao marxismo em particular. Todos opinam sobre o comunismo, partidos políticos, movimentos sociais etc., e em regra desconhecem não apenas o processo de desenvolvimento de tais ideologias ou organizações, como os seus aspectos mais imediatos. É corriqueiro ver as correntes derivadas do marxismo serem taxadas de utópicas, inviáveis, mas as características básicas de tais correntes são estranhas aos referidos críticos.

Se este problema é característico por parte dos supostos críticos do comunismo, ele se faz presente também nos que militam a favor deste. Vários militantes lêem quatro ou cinco livros tidos como clássicos e a partir de então já consideram-se os detentores da verdade. Colocam a tendência que participam dentro do movimento como absoluta e única possível de êxito. Opinam sobre a situação dos mais diversos países, assim como dos mais diversos pensadores com frases feitas que para eles expressam por si só toda razão. Não procuram o fundamento teórico que aliado à realidade objetiva deveria servir de base para as decisões tomadas e as posições defendidas.

Com intento de criar um veículo com conteúdo organizado de maneira lógica sobre o marxismo, este blog foi criado. Vários textos dos mais diversos autores foram por mim selecionados e dispostos em uma organização determinada, para que possam servir de base para os interessados no assunto que se esbarrarem por aqui. A seção inicial “textos básicos” contêm o que se pretende ser uma espécie de “introdução ao marxismo”. Sob o meu ponto de vista, tais textos representam uma das possibilidades de conteúdo mínimo necessário que qualquer pessoa precisa saber para posicionar-se sobre o assunto, sejam favoráveis ou não. Ressalto aqui a necessidade de estuda-los e não apenas uma leitura superficial.

Outras seções pretendem aprofundar temas específicos do marxismo segundo estudos de meu interesse particular, mas que podem ser úteis a outra pessoas. Também incluiremos elos para os melhores veículos (revistas, sítios) com textos e estudos marxistas, assim como conteúdos culturais afins (músicas, vídeos etc.).

Se por um lado a precária formação teórica é um marco nos movimentos sociais e estudantis em geral, cabe ressaltar que na universidade também se faz presente o outro lado da moeda. Pessoas que se dedicam a estudar o marxismo em um plano puramente teórico, encarando a teoria em uma perspectiva meramente contemplativa, própria da ciência burguesa. Neste caso é conveniente uma citação de Florestan Fernandes:

“O marxismo se empobreceu na medida em que intelectuais marxistas passaram a ser intelectuais não-ativistas. O intelectual não pode se dissociar da prática política, sob pena de perder a perspectiva de classe e cair no vício acadêmico do pensamento abstrato. [...] Agora, ser ativista não significa necessariamente filiar-se a um partido. No Manifesto Comunista, Marx e Engels não falam em partido comunista. Eles falam que a função dos comunistas é servir a todos os partidos operários. E que o comunista devia levar a eles a visão de conjunto, a totalidade das grandes transformações que ocorrem e o que elas vão gerar. Seriam elementos fermentadores no processo político e de produção intelectual.”


Gustavo Henrique Lopes Machado



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